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Quadrinhos


Já faz um tempo que os roteiristas de histórias em quadrinhos começaram a querer dar um significado mais profundo para algo como a existência dos super-heróis. Desde a metade da década de 70 (ou antes até) que os caboclos voadores de collan nas HQ's norte-americanas começaram a ter uma importância mais verdadeira no universo em que existem. Não se trata mais de seres que salvam gatos da árvore, derrubam o lagarto gigante da semana e se limitam a receber só uma salva de aplausos de quem estava assistindo para mês que vem fazerem tudo de novo. Quando se começou a pensar no que pessoas assim significariam para o mundo é que os quadrinhos (ou arte sequencial para quem não gosta da expressão) tomaram um novo caminho.

É difícil apontar para um único divisor de águas nesse momento. Mais convencional seria falar de Whatchmen, que puxou os heróis de volta ao chão mostrando como eles afetavam o mundo ao redor e vice-versa. Marvels também valeria por mostrar o ponto de vista das pessoas comuns, seus medos e esperanças sobre os Vingadores, Hulk e Surfista Prateado que passavam por cima de suas cabeças todos os dias. Mas, se formos pensar dessa forma, até o papel Homem-Aranha na década de 60 já era criticado pelo Clarim Diário, jornal presente em suas próprias histórias. Assim, estabelecer marcos ou momentos de mudança fixos é muito, muito complicado, porém tentar encaixar essa ou aquela história como seguidora dessa nova tendência das HQ's não é tão difícil assim.


“O Reino do Amanhã” (Kingdom Come – DC Comics) pode ser classificado como produto dessa geração de escritores e desenhistas que pensavam tanto os quadrinhos quanto seus personagens de maneira diferentes. A minissérie em quatro edições mostra um futuro distópico onde Superman, Mulher Maravilha e todos os grandes representantes do que era ser um herói no princípio deram lugar a uma multidão de pseudo-heróis super-poderosos e igualmente violentos que não herdaram a preocupação de seus antecessores com a vida, afundando-se cada vez mais em lutas e destruição que acabam afetando os inocentes ao redor. Quando a irresponsabilidade e inexperiência desses novos super-seres causa um acidente catastrófico, a Liga da Justiça vê que é a hora de intervir como já devia ter feito há muito, porém esse é só o princípio do Armagedom que vai trazer o fim de todos os heróis ou da própria humanidade. E é dever do pastor Norman McCay ser a testemunha desse grande desastre e exercer um papel fundamental em sua conclusão.

Terminando de ler “O Reino do Amanhã”, não é tão simples entender porque essa é uma história tão importante e reverenciada. Claro que lá tem todo um ar meio épico, cenas de luta e batalhas lindas, além de ser muito divertido ver as versões futuristas dos grandes ícones da DC, mas até aí nada de tão especial assim. O que eu percebo no roteiro de Mark Waid é um forte sentimento de nostalgia e homenagem aos verdadeiros super-heróis. Num momento como a década de 90, em que a tendência das editoras era apostar em enredos mega violentos com personagens armados até os dentes, musculosos e muito mal desenhados, o “escoteiro chato” que era o Superman parecia não ter mais espaço para continuar sendo o que sempre foi, talvez deveria se entregar às mudanças. É inevitável ver as comparações que Waid quis passar na minissérie. Os tempos são outros, mas os símbolos e capas do passado são mais necessários do que nunca e é com Norman McCay que temos a principal ponte de ligação entre o leitor e a história. Ele dá o toque de humanidade como quem viu deuses andarem pela terra e agora tem que se ver de frente com o Apocalipse que eles mesmos causaram. Norman passa toda a sensação de impotência dos seres humanos que se veem encolhidos frente a poderes que não pode controlar, marcando os capítulos com as citações bíblicas que dão a contagem para o fim de tudo.

Além do pastor, muito destaque é dado ao Superman e Mulher Maravilha. Confesso que não gostei muito do azulão e da amazona nessa história mas consigo entender que a melancolia, frustração e agressividade dos dois era compreensível quando eles viam o mundo desabar ao seu redor não importa o quanto se esforçassem. Durante as edições mais razões são mostradas para os estados de espírito alterados de ambos, mas mesmo assim achei meio chato ver um Superman tão inseguro e desolado a toda hora.

Falar da arte mereceria um post a parte só para puxar o saco de Alex Ross. O artista tinha se destacado alguns anos antes em Marvels com seu estilo de desenho pintado de forma realística. O efeito que isso provoca dá humanidade aos personagens ao mesmo tempo que consegue engrandecer ainda mais os que já possuem força e velocidade sobre-humanas. Ross consegue dar dinamismo às suas pinturas ao mesmo tempo que enfia dezenas de personagens num mesmo quadro e se hoje ele se ocupa mais como capista, “O Reino do Amanhã” é uma excelente oportunidade de vê-lo trabalhando no miolo de uma revista.

Não sei se posso chamar “O Reino do Amanhã” de um verdadeiro clássico, acho que existem obras muito maiores em qualidade e importância do que esta. Mas ao mesmo tempo seria besteira ignorá-lo e chamá-lo de dispensável. Seja pela arte ou pelo roteiro, há razões de sobra para esse pequeno épico estar na prateleira de qualquer um.

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