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Este blog é para todos aqueles que quiserem compartilhar boas formas de lazer e entretenimento, desde cinema e séries até quadrinhos e esportes. Sugestões serão sempre bem-vindas e incentivadas.

Para separar os homens dos meninos


"Esse filme tá muito macabro". Após uma das cenas mais tensas de Harry Potter e as Relíquias da Morte: Parte I, pude ouvir numa fileira logo atrás da qual eu estava no cinema a frase citada. Para mim, esse pensamento instantâneo e nem um pouco planejado resume a transição dessa franquia na tela grande: os primeiros, A Pedra Filosofal e A Câmara Secreta, dirigidos por Chris Columbus tinham um toque leve e ingênuo; O Prisioneiro de Azkaban, dirigido por Alfonso Cuarón, apostou num viés mais sombrio; os filmes seguintes, O Cálice de Fogo, A Ordem da Fênix e O Enigma do Príncipe, mantiveram o tom mais misterioso com altos e baixos; e por fim, nessa primeira parte da última obra o conceito de sombrio é elevado ao mais alto grau.

A atmosfera fechada dos mais recentes longas cresceu muito graças ao diretor David Yates. Se seu Enigma do Príncipe já possuía essa parte técnica refinadíssima, as Relíquias da Morte deixa tudo mais sombrio, arriscado e melancólico. A fotografia com uma paleta de cores resumida ao cinza e à completa escuridão e uma sequência de cenas mais intimistas criam um ambiente de tensão, medo, melancolia, ciúmes, raiva e solidão nunca antes visto nas produções anteriores. Vale destacar também, é claro, boas cenas de ação, uma primorosa direção de arte e precisos efeitos especiais (sem precisar recorrer ao 3-D).

Amadurecimento é, além de sombrio, uma palavra que define muito bem As Relíquias da Morte. Tudo está muito mais desenvolvido: a direção ainda mais segura de David Yates, a sustentação técnica, os personagens e a história. Essa última, retratando a luta de Harry, Rony e Hermione para destruir as Horcruxes de Voldemort sem a segurança de Hogwarts ou de um tutor como Dumbledore, inevitavelmente, conduz a obra para questionamentos mais complexos. Agora, a dúvida não é mais passar ou não para um próximo ano em Hogwarts, mas sim, saber se será possível continuar vivendo.

E os detalhes que muitos dos fãs mais radicais (eu inclusive) reivindicavam a todo custo? Acredito que pela primeira vez houve uma completa combinação da visão do diretor com a base mais detalhista dos livros. Provavelmente, a divisão em duas partes permitiu com que fosse viável se concentrar mais em camadas da história antes pouco trabalhadas. Enquanto assistia, repassava mentalmente a trajetória do livro em busca de acertos ou erros e colocando na balança os acertos foram enormes e ajudaram a contar uma boa história, apesar de tudo de ruim já feito até então.

Quanto aos personagens, os atores mais constantes em termos de grandes atuações arrebentam novamente: Ralph Finnes foi a escolha ideal para Voldemort ao captar a essência da maldade encontrada nesse bruxo, Helena Bonham Carter continua compondo uma Belatrix Lestrange psicótica e explosiva e Alan Rickman, mesmo pouco aparecendo na pele de Snape, aproveita cada segundo em cena para ilustrar o personagem mais bem construído da saga. E a trinca principal de personagens cresce à medida que a história pede, afinal até mesmo o alívio cômico de Rony é reduzido para dar vez as dores de um Harry inseguro, uma Hermione sofrida e um Rony angustiado.

Ao final da projeção tive a certeza de que o caminho, apesar de comprometido por decisões que se mostraram equivocadas nos outros filmes, agora está sendo bem guiado a um final coerente e digno dos milhares de fãs mundo afora ávidos por verem no cinema um universo do qual aprenderam a gostar e reverenciar. Harry Potter e as Relíquias da Morte: Parte I, como filme de aventura agrada e como adaptação capta tremandamente bem o clima e os detalhes do fim de uma jornada. E acima de tudo consegue dividir a trama num momento apropriado, preparando o terreno para o grande desfecho que está por vir.

Obs.: A animação inserida em dado momento da exibição é fantasticamente bem construída e se encaixa perfeitamente com a lógica das Relíquias da morte. Posso estar exagerando, mas guardando as devidas proporções e diferenças, me fez lembrar o anime de Kill Bill Volume I do Tarantino.

Nota: 8

Realmente nada mais importa!



Para aqueles que gostam de acompanhar séries, seja baixando pela Internet ou vendo pela televisão, Breaking Bad é uma pedida praticamente obrigatória. Essa produção recentemente terminou os seus episódios inéditos pelo canal a cabo AXN e iniciou as reprises desde a primeira temporada (vale lembrar que até a 2ª temporada já chegou ao Brasil) às terças 15 e 21 horas e aos domingos 11 horas. É impossível falar em Breaking Bad e não elogiá-la... e simplesmente não se tornar fã. Esse post deve, portanto, trazer um pouco de tantas qualidades.

Primeiro falemos da sua sinopse: o professor de Química Walter White tem um filho adolescente que sofre ed paralisia cerebral e uma esposa grávida. Quando ele descobre possuir um câncer de pulmão, sua vida se transforma radicalmente e passa a produzir e negociar metanfetamina com um ex-aluno Jesse Pinkman a fim de garantir uma estabilidade financeira para sua família depois que morrer. Essa proposta me atraiu e tive interesse em ver como seria amarrada essa trama, tendo boas expectativas. Não me arrependi.

O seu roteiro traz um inspirador retrato de como a vida corriqueira e extremamente banal de uma típica família de classe média pode sofrer uma reviravolta de grandes proporções dependendo de qual caminho se escolhe para seguir. Acima de tudo, Breaking Bad trata dos efeitos possíveis de ações impensadas ou até mesmo no caso de nosso personagem principal impensadas e também pouco usuais. E a própria expressão que dá nome à série já mostra a ideia chave da produção: uma gíria do sul dos EUA que siginifica desviar-se da direção certa e começar a fazer coisas erradas.

Dentro desse ponto, Walter White aparece como toda a representação de uma vida que por suas escolhas duvidosas caminhou para consequências ainda mais problemáticas. E para reforçar a caracterização de um personagem complexo desde o primeiro minuto que aparece em cena, está a impressionante atuação de Bryan Cranston, já coroada com prêmios no EMMY e no Globo de Ouro, transitando com extrema qualidade entre o sofrimento de sua condição médica e existencial, a completa dissimulação em enganar seus familiares e amigos, a falta de pudores a ponto de apelar para roubos e assassinatos e uma fúria passional, por vezes incontrolada, diante de tantos problemas. Como diz muito bem a abertura do seriado: "Nada mais importa"

Falar em Bryan Cranston e não mencionar os demais atores seria um tremendo erro. Todos eles, desde aqueles mais constantes desde os primeiros episódios como Anna Gunn vivendo Skyler a esposa de Walter, Aaron Paul vivendo Jesse Pinkman, o sócio nesse mundo das drogas e Dean Norris vivendo o cunhado de Walter e agente da DEA, assim como outros que aparecem no decorrer dos episódios, tem sua especial importância para o desenvolvimento da trama. A história, por sinal, consegue se manter bem organizada e com ótimos ganchos para novas situações durante todo o tempo.

Se a 1ª temporada possui um ritmo mais lento com o intuito de apresentar os personagens e toda a lógica da série (mesmo assim é impossível tecer qualquer comentário negativo), o final dessa temporada e a 2ª já se mostram mais alucinantes e frenéticos em termos de conflitos e momentos em que são sentidas as consequências de um estilo de vida "alternativo".

Esse é um breve panorama das 2 primeiras temporadas de Breaking Bad. Esperemos agora que o sucesso de crítica e público façam com que as próximas temporadas cheguem o mais depressa possível ao Brasil, e principalmente, garantam vida longa a Breaking Bad. Uma vida longa e próspera.

Alguém prenda essa bruxa!

Carlos Alberto, Valdivia, Maicossuel, Fred, Emerson, Renato, Gilberto, Paulo Henrique Ganso...a lista não termina rapidamente. Mas o que esses jogadores têm em comum? Todos eles são exemplos de atletas no Campeonato Brasileiro às voltas com lesões e dificuldades de se manter na melhor forma fisíca. Outras edições do torneio já apresentavam problemas médicos, mas definitivamente o ano de 2010 ficará marcado como aquele em que com mais frequência as equipes sofreram com desfalques para o departamento médico.

O Fluminense pode ser considerado um dos times que mais sofrem. Emerson, depois de ótimas atuações, se lesionou e ficou um longo tempo afastado até que quando tentou retornar, jogou pouco mais de 15 minutos contra o Botafogo e novamente se machucou e dessa vez sem previsão de volta; Fred passou a maior parte do ano no estaleiro e quando parecia estar de volta, também sentiu nova lesão, saiu e ainda por cima criticou abertamente o DM por uma suposta volta precipitada; Deco é outro que completa a lista de importantes baixas tricolores. Cruzeiro e Corinthians também se ressentem por seus desfalques como Gilberto, Dentinho e Jorge Henrique.

A situação física dos jogadores pode ser dividida em dois campos distintos: uma preparação física inadequada e sucessivas lesões algumas bem sérias. No primeiro caso, pode-se pensar na falta de tempo disponível para os clubes preparem as suas pré-temporadas, em virtude de do número extenso de partidas, ou ainda nos exemplos de jogadores que vindo ao Brasil de outros centros do futebol não possuem a devida capacitação técnica para suportar uma maratona de jogos. As dificuldades para entrar em forma de Renato do Flamengo e Valdivia do Palmeiras retratam bem esse panorama.

Também existem os casos de atletas convivendo com lesões muito graves, vide Paulo Henrique Ganso do Santos e Maicossuel do Botafogo que somente retornam em 2011, e outros atormentados por uma quantidade absurda de seguidas contusões num intervalo de tempo muito curto. Por que? Inúmeros jogos próximos de meio de semana e final de semana, a própria dinâmica do futebol, em que a exigência física em termos de preparação e recuperação só tende a aumentar exponencialmente e até mesmo a qualidade duvidosa de gramados de estádios como o Engenhão e o formato um tanto quanto prejudicial das chuteiras.

Soluções para essas questões ainda não foram atingidas, o problema é muito complexo. Uma sugestão que aparece, na qual devo dizer que concordo, é adaptar o calendário brasileiro ao europeu. Fazendo isso, seria possível não apenas conter a saída em grande escala dos nossos jogadores como também reduzir a quantidade quase inumana de partidas e todo o desgaste sofrido pelos atletas. Pode não ser suficiente, pode haver outras medidas a serem tomadas, mas de qualquer forma esse já pode ser um começo. Enquanto nada muda, ainda teremos que conviver com tantas ausências importantes, clubes enfraquecidos e um campeonato abaixo do que ele pode realmente ser.

Tropa de Elite 2


Filas intermináveis, dias e mais dias de sessões esgotadas, comentários por todas as esquinas e mesas de bares e um endeusamento do Capitão Nascimento. Como Tropa de Elite consegue tudo isso e mais um pouco? Além do fato de poder ser descrito por alguns, ou melhor por muitos, e eu me incluo nesse grupo, como o filme nacional mais importante dos últimos tempos. E escrever esse post significa olhar mais uma vez as inúmeras qualidades de uma obra... perfeita.

Passados vários anos do primeiro longa, esse segundo exemplar já em sua sinopse mostra uma evolução em termos de temática, ganhando proporções muito maiores e tendo pretensões muito mais ambiciosas: ao mesmo tempo em que enfrenta questões pessoais, o Capitão Nascimento precisa encarar um novo e mais complexo problema, a relação entre mílicias e política. Esse é todo o pontapé inicial para uma grande discussão que vai além da segurança pública e chega até a postura da sociedade diante do que se vê de mais inadmissível no governo.

Ver os minutos transcorrendo em Tropa de Elite 2 é ver como um projeto já bem sólido em sua versão anterior conseguiu amadurecer a sua narrativa, as suas propostas, sua parte técnica e como se concretiza temas tão densos e relevantes de forma convincente. Não se trata apenas de um retrato extremamente real da violência e da maneira como ela é veiculada, mas também criticar as práticas escusas e absurdas das milícias, do Estado, da polícia e da imprensa, expor uma realidade, que embora não seja nehuma novidade, choca ao ser vista na telona tão bem montada e sempre buscando incomodar o público, destacar um sistema corrupto cheio de teias e camadas e interesses e vantagens e estratégias e personagens ardilosos, trazer à tona discussões políticas da mais alta necessidade nas vésperas do segundo turno da eleição e realçar ainda mais um cenário deprimente, pessimista com uma coragem elogiável, afinal pontuar um momento clímax com a frase "A PM do Rio tem que acabar" não é pra qualquer um.

Outra discussão pertinente é a recepção junto ao grande público de André Mathias e principalmente do Capitão Nascimento enquanto heróis e nesse sentido a cena no restaurante é siginificativa por tocar nesse ponto. Seriam mesmo os indíviduos do BOPE uma solução para o problema de segurança do Rio de Janeiro ou uma consequência da escalada de violência ininterrupta que assola a Cidade Maravilhosa? Interpretem como quiserem, mas pensar no Capitão Nascimento como ou um herói ou um monstro é ignorar antes de mais nada um personagem extremamente humano por carregar dúvidas, tristezas, convicções e sentimentos das mais variadas naturezas.

E o roteiro escrito por Bráulio Mantovani, o mesmo cara de Cidade de Deus, explora todas essas possibilidades e muitas outras de modo riquíssimo, criando situações e conflitos da mais alta categoria e sempre com a intenção de puxar uma nova cena, uma nova ideia ou algum momento decisivo seja para levar adrenalina seja para levar reflexão para o filme. Trabalho impecável de conexão e coesão do todo, aliado a estupenda montagem.

Como não citar a maravilhosa direção de José Padilha, conferindo energia e tensão aos embates verbais ou adrenalina e empolgação em cenas de ação e uma narrativa interessante durante todo o tempo a partir de recursos muito bem empregados como a narrativa em off, o fantástico trabalho de edição de som e a fotografia mais difusa combinando perfeitamente com o tom da obra.

A lista de personagens/atores também está imune a críticas. Destaco três personagens apenas por uma questão de espaço, porque vários outros transbordam significados em suas atuações. O deputado Diogo Fraga vivido por Irandhir Santos numa combinação na medida certa da representação das questões morais do filme com a natural explosão passional a qual todos estamos sujeitos ao vivenciarmos tantas atrocidades; Russo vivido por Sandro Rocha numa composição típica de vilão cruel, truculento mas agregando múltiplas facetas; e, claro, Capitão Nascimento vivido por Wagner Moura, mais consciente do mundo que o cerca e representado por seu ator, num desempenho monumental e imponente, com ainda mais tormentos e complexidade do que no primeiro Tropa de Elite.

O que faz Tropa de Elite atrair tanto público e sucesso? Pode ser a excelente crítica social, o retrato documental de uma realidade muito próxima de todos nós, grandes atuações, cenas de ação muito bem feitas, chavões que serão exaustivamente repetidos (e esse não poderia ser diferente e vem aos montes como "Quer me fuder me beija", "Cada cachorro que lamba a sua caceta" e "Traz um café porque pão duro é foda"). Ou quem sabe tudo isso.

Nota: 10

Quem para essa seleção?


Uma medalha de ouro olímpica em Atenas 2004, oito títulos da Liga Mundial e três títulos do Campeonato Mundial. O balanço da era Bernardinho não poderia ser melhor e o último desses triunfos aconteceu no domingo dia 10 de outubro ao vencer na final Cuba por 3 sets 0 (25/22, 25/14 e 25/22) em Roma na Itália.

A caminhada brasileira, como já se viu em outras oportunidades, começou titubeante não conseguindo encaixar o seu melhor jogo e sofrendo duas derrotas, uma para Cuba e outra para a Bulgária (esse ultrapassando as questões técnicas será abordada mais a frente). De qualquer forma, o permanente bom nível da seleção a levou até a fases finais, onde aí sim precisaria render todo o seu potencial. E foi realmente o que se confirmou com as perfeitas atuações contra Itália na semi-final e na final contra Cuba. Especialmente no último jogo, o fator decisivo para a conquista, sem dúvida, foi a segurança saque-recepção-ataques responsável por abrir uma boa margem de pontos nos dois primeiros sets, quando o desequilíbrio foi maior e mesmo no terceiro set, em que passado o equilíbrio inicial o Brasil também conseguiu abir uma vontagem considerável que permitisse administrá-la até a vitória.

Nesses momentos decisivos vale, obviamente, ressaltar a excelente atuação do oposto Leandro Vissoto. Se nas fases anteriores, ele não esteve na sua melhor forma e tendo dificuldades em manter uma regularidade na virada de bola, nos confrontos contra Itália e Cuba Vissoto foi o grande destaque da equipe, sendo o maior pontuador em ambas as partidas. Méritos também para os desempenhos do levantador Bruninho e do meia de rede Rodrigão. Mesmo Dante e Murilo (este ganhador do prêmio de melhor jogador da competição pela sua regularidade e ótimas perfomances anteriores) não estando 100% tecnicamente em todos os fundamentos, o trabalho coletivo e, claro, as jornadas inspiradas de Leandro Vissoto compensaram tal fato.

Dado interessante foi a ausência de alguma seleção européia nessa decisão, situação bem rara nesses últimos campeonatos. Será o fortalecimento de seleções americanas como Cuba e EUA ( acredito que sua eliminação na 3ª fase pela Itália tenha sido uma zebra) e a manutenção do grande nível do Brasil ou uma crise das seleções européias? Embora ainda seja precoce formar uma tendência quanta a essa questão, julgo serem as duas opções bem plausíveis, chamando a atenção para o fato de que nenhuma seleção européia apresentou algo novo em seu jogo: Rússia e Polônia decepcionaram, a Sérvia chegou ao 3º lugar sem muito brilho e a Itália foi mais longe do que todos poderiam imaginar talvez muito mais pelo apoio da torcida.

Um único acontecimento pode, na minha opinião, machar essa brilhante campanha: entregar a partida contra a Bulgária. É verdade que o regulamento foi feito para beneficiar a seleção italiana e levá-la por um caminho mais fácil até as semi-finais. Também é verdade que esse favorecimento merecia um protesto, mas seria a derrota planejada para a Bulgária a melhor forma de protestar? Decididamente não. Protestasse antes do ínicio do torneio. Se por um lado o que foi feito para a Itália descumpria todos os valores morais e esportivos, o que foi feito pelo Brasil desrespeitava os torcedores e os valores éticos no esporte.

Apesar desse problema no jogo contra a Bulgária, o que deve ficar registrado é a campanha tecnicamente primorosa da nossa seleção e não um deslize esporádico, que deve ser bem compreendido para se evitar repetições. E por fim, a pergunta que abre esse post está ainda sem respotas. Sempre aparece algum candidato para derrubar a hegemonia brasileira no voleibol masculino, foi assim com a Sérvia, com Cuba e com a Rússia, mas nenhuma delas se manteve. Problema maior talvez seja os EUA, adversário recentemente mais complicado do Brasil que chegou a nos vencer nas últimas Olímpiadas, mas que ainda não conseguiu retirar o Brasil no topo do ranking. Torcemos, então, para que por muito tempo essa pergunta fique sem resposta.

Festival do Rio parte 1: MicMacs- Um Plano Complicado



O Festival de Cinema do Rio terminou nesse dia 7 de outubro. Durante suas 2 semanas de realização, ele ofereceu mais de 300 filmes de diversas temáticas e nacionalidades, porém, mesmo com tantas opções, só terminei vendo 3 películas. O motivo: tempo e dinheiro jogaram contra mim. Enfim, os próximos posts irão analisar essas 3 produções: o argentino Viúvas Sempre às Quintas e os franceses Of Gods and Men e MicMacs. E começaremos a análise por este último.

Primeiro aqui está a sinopse: Bazil é um músico de rua, que teve sua vida destroçada pelas armas quando sua casa foi explodida por uma mina, deixando-o orfão e sem teto e quando anos depois foi atingido por uma bala perdida no crânio, que o deixou à beira da morte. Após sair do hospital, é apresentado a um grupo de moradores de ferro-velho local, cada um deles detentor de uma habilidade própria, que com a ajuda deles, elabora um plano para destruir a indústria de armamentos responsável pelos tristes fatos da sua vida. Esse resumo poderia indicar um drama calcado nos efeitos dessas tragédias sobre a vida do protagonista, ou um longa de ação marcado por cenas de adrenalina, perseguição e afins..., mas na realidade o que predomina em MicMacs é a comédia (mesmo com essa sinopse).


E a comédia reside justamente no tal plano para destruir a indústria de armamentos. A reunião do grupo que ajuda Bazil, bem ao estilo da franquia 11 Onze Homens e Um Segredo, compõe-se como um verdadeiro freak show de personagens bizarros, tendo atitudes bizarras e entrando em situações bizarras. Para aqueles que gostam, assim como eu, de filmes nada convencionais recheado de personagens excêntricos vão se divertir e muito com esse ótimo exemplar do cinema francês.

Outros aspectos da obra precisam ser levantados além do divertido elenco, em especial do talentossísimo Dany Boon. Jean-Pierre Jeunet, mesmo diretor de O Fabuloso Destino de Amelie Poulain, mantém no seu novo trabalho a direção ágil, uma montagem de grande eficiência, uma farta paleta de cores permeando uma direção de arte muito competente e toques de fantasia que podem beirar o exagero em alguns momentos, mas até assim partindo para um lado mais escrachado faz rir e convence.

Até mesmo podemos encontrar a abordagem de um tema sério e pesado como a indústria de armamentos feita de maneira leve e descontraída, tirando todo o peso melancólico que se poderia gerar ao tratar de tal questão. A crítica ao belicismo dos tempos atuais está lá, mas sem lançar mão de mensagens políticas e panfletárias.

Bem, se a pedida é por um cinema de qualidade, o que no caso julgo ser o francês o melhor na Europa, oferecendo bons e reais momentos de diversão (Hollywood poderia aprender um pouco aqui como fazer uma comédia escrachada sem apelar para o ridículo) e um cuidado técnico bem apurado deem uma chance para MicMacs. No começo, o estranhamento diante de tanta bizarrice vai ser normal, mas depois o que vai predominar será um ótimo entretenimento... incomum, mas um entretenimento bem feito.

Nota: 8

The Human Centipede


Crítico convidado: Daniel Schneider Bastos

Estava eu perambulando pela Internet, visando aqueles sites que constituem o seleto grupo de minhas leituras diárias, quando me deparo com um trailer de um filme com o peculiar nome de The Human Centipede, uma película que vinha sendo muito premiada em festivais de cinema europeus e parecia estar causando bastante rebuliço entre alguns cinéfilos de gosto duvidoso. Pelo nome imaginei se tratar de um filme pornográfico, ainda mais levando em conta que o filme era holandês. Quando o trailer acabou, precisei de alguns segundos para processar as imagens perturbadoras que havia acabado de presenciar. E jurei para mim mesmo que não descansaria até ver essa pérola.

Passados alguns meses após esse dia, eu finalmente me conformei como fato de que esse filme jamais passaria nos cinemas do Rio de Janeiro (apesar de ter passado no II Festival Internacional de Cinema Fantástico, em São Paulo), e que também não seria lançado em DVD no Brasil. Dessa forma, me lancei em uma rápida pesquisa por sites obscuros, e não tardei a encontrar The Human Centipede disponível para se assistir online. Antes de clicar no botão de play, hesitei por um instante e refleti se não seria melhor não ver o filme e mantê-lo como uma lenda em meu imaginário. O trailer que eu havia visto ficara tão marcado em minha mente que eu temia desmistificar o filme assistindo a obra. Mas se eu não tivesse reunido toda minha coragem para clicar no play, eu não estaria aqui agora para escrever essa resenha.

Se você está lendo esse texto até agora, deve estar se perguntando: afinal, o que é The Human Centipade? De fato, já estamos no terceiro parágrafo e já está na hora de começar a falar do filme. Comecemos pela sinopse: uma dupla de turistas estadonidenses está fazendo um tuor pela Europa, quando o pneu do carro delas estoura bem no meio do interior da Holanda. Procurando ajuda, elas vão até o que parece ser a única casa das redondezas. Lá dentro, encontram um cirurgião doentio que não hesita em dopá-las e levá-las para sua sala de cirurgias no porão, onde pretende transformá-las em uma espécie de centopéia humana (dã!), unindo-as pelas extremidades de seus sistemas digestivos. Se você matou as aulas de biologia da sexta série e não entendeu o que eu quis dizer, explicarei em termos leigos: o cirurgião pretende costurar a boca de uma no ânus da outra.

Após uma sinopse como essa, fica fácil entender porque eu fiquei tão empolgado com esse filme sem nem ao menos tê-lo visto. Esse provavelmente é o enredo mais bizarramente original da história do cinema. Entretanto, não basta uma boa (boa?) idéia para se fazer um bom filme (toma essa Shyamalan), e um filme que tinha tudo para ficar marcado no hall da fama dos filmes trash acaba sendo estragado por uma série de desleixos técnicos, que serão analisados nos próximos parágrafos.

The Human Centipede é um filme com poucos personagens e, por extensão com, com poucos atores. Basicamente, temos as duas turistas chamadas Jenny e Lindsay (interpretadas por Ashlynn Yennie e Ashley C. Williams, respectivamente), o cirurgião Joseph Heiter (Dieter Laser) e o japonês Katsuro (Akihiro Kitamura), que também irá participar do experimento como cobaia. O que esse punhado de atores tem em comum, além de serem ilustres desconhecidos? Eles são todos péssimos atores. São tão ruins que é impossível sentir compaixão pelas pobres vítimas do Dr. Heiter, ou muito menos sentir medo ou raiva do vilão do filme.

Entretanto, o pior não fica por parte do cast, e sim do diretor / roteirista / editor do filme, Tom Six. É verdade que o cara mandou bem quando pensou na idéia do enredo, mas na hora que foi o escrever o roteiro, bem (...), digamos que tem horas que eu cheguei a me perguntar se eu não estava vendo uma versão editada do filme, pois tem horas em que parece que estão faltando cenas, tamanha a má condução do andamento do filme. Isso para não falar nos diálogos, que de tão ruins e óbvios parecem àquelas gravações das aulas de inglês que passavam para a gente no ensino fundamental. A cena em que as duas moças são abordadas por um motorista na estrada tem falas tão ridículas que parece um filme de comédia. É verdade que quem vê um filme chamado The Human Centipade não pode esperar diálogos dignos de um Tarantino, mas nesse caso, eu até fiquei feliz pelo fato de os personagens passarem metade do filme com a boca no ânus do outro e pararem de falar.

Mas se Tom Six se mostra um péssimo roteirista, ele não fica atrás como diretor. Quem já viu a nova trilogia de Star Wars sabe como um diretor ruim é capaz de destruir um filme e desorientar bons atores como Natalie Portman e Ewan McGregor, e no caso de The Human Centipede, a direção consegue fazer os quatro piores atores do mundo parecerem ainda piores.

Podemos dividir o filme em dois momentos: um primeiro que mostra o Dr. Heiter reunindo suas vítimas e indo atrás de uma das turistas que tenta fugir da casa, e um segundo momento mais voltado para o “funcionamento” da centopéia. Qualquer um que se deu ao trabalho de ver ao trailer percebeu que o Dr. Heiter consegue de fato “montar” a sua criatura. Dessa forma, eu pensei que a primeira parte do filme seria extremamente angustiante, pois apesar dos esforços das protagonistas para escapar de sua sina terrível, todos saberíamos que tudo aquilo era inútil. Mas como eu disse anteriormente, as protagonistas são tão não-carismáticas que você acaba torcendo para elas se darem mal. Quanto á segunda parte, posso afirmar que consegue ser bem nojenta e repulsiva, mas sem recorrer à violência gratuita como é o caso das infindáveis continuações de Jogos Mortais, sendo este talvez o único mérito do filme.

O resultado de tantos problemas é que você passará mais tempo rindo dos diálogos ou das ridículas expressões faciais do Dr. Heiter que ficando tenso ou enojado, o que é uma coisa bem complicada para um filme que se propõe a ser de terror. Minhas conclusões são: primeiro, The Human Centipede é um tremendo desperdício para uma boa idéia e, segundo, não é preciso muito para ser premiado nesses festivais de cinema que rolam Europa afora.

Curiosidades:

- The Human Centipede é talvez o único filme trilíngue do mundo, com diálogos em inglês, holandês e japonês. Felizmente, o filme vem com legendas em inglês para essas duas últimas línguas, enquanto que as conversas em inglês são tão toscas que mesmo que nunca fez curso de língua estrangeira consegue entender.

- O diretor / editor / roteirista do filme já anunciou uma seqüência, contando com um orçamento maior (o primeiro filme custou “apenas” 1,5 milhões de euros), e dessa vez mostrando uma centopéia com doze pessoas. Aliás, ele diz que já tem idéias para uma terceira película. Não sei se isso é uma promessa ou uma ameaça.

- Uma paródia pornográfica do filme, intitulada The Human Sexipede, será lançada em Outubro de 2010. É, esse aí eu não vou ter coragem de assistir.



 
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