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Para separar os homens dos meninos


"Esse filme tá muito macabro". Após uma das cenas mais tensas de Harry Potter e as Relíquias da Morte: Parte I, pude ouvir numa fileira logo atrás da qual eu estava no cinema a frase citada. Para mim, esse pensamento instantâneo e nem um pouco planejado resume a transição dessa franquia na tela grande: os primeiros, A Pedra Filosofal e A Câmara Secreta, dirigidos por Chris Columbus tinham um toque leve e ingênuo; O Prisioneiro de Azkaban, dirigido por Alfonso Cuarón, apostou num viés mais sombrio; os filmes seguintes, O Cálice de Fogo, A Ordem da Fênix e O Enigma do Príncipe, mantiveram o tom mais misterioso com altos e baixos; e por fim, nessa primeira parte da última obra o conceito de sombrio é elevado ao mais alto grau.

A atmosfera fechada dos mais recentes longas cresceu muito graças ao diretor David Yates. Se seu Enigma do Príncipe já possuía essa parte técnica refinadíssima, as Relíquias da Morte deixa tudo mais sombrio, arriscado e melancólico. A fotografia com uma paleta de cores resumida ao cinza e à completa escuridão e uma sequência de cenas mais intimistas criam um ambiente de tensão, medo, melancolia, ciúmes, raiva e solidão nunca antes visto nas produções anteriores. Vale destacar também, é claro, boas cenas de ação, uma primorosa direção de arte e precisos efeitos especiais (sem precisar recorrer ao 3-D).

Amadurecimento é, além de sombrio, uma palavra que define muito bem As Relíquias da Morte. Tudo está muito mais desenvolvido: a direção ainda mais segura de David Yates, a sustentação técnica, os personagens e a história. Essa última, retratando a luta de Harry, Rony e Hermione para destruir as Horcruxes de Voldemort sem a segurança de Hogwarts ou de um tutor como Dumbledore, inevitavelmente, conduz a obra para questionamentos mais complexos. Agora, a dúvida não é mais passar ou não para um próximo ano em Hogwarts, mas sim, saber se será possível continuar vivendo.

E os detalhes que muitos dos fãs mais radicais (eu inclusive) reivindicavam a todo custo? Acredito que pela primeira vez houve uma completa combinação da visão do diretor com a base mais detalhista dos livros. Provavelmente, a divisão em duas partes permitiu com que fosse viável se concentrar mais em camadas da história antes pouco trabalhadas. Enquanto assistia, repassava mentalmente a trajetória do livro em busca de acertos ou erros e colocando na balança os acertos foram enormes e ajudaram a contar uma boa história, apesar de tudo de ruim já feito até então.

Quanto aos personagens, os atores mais constantes em termos de grandes atuações arrebentam novamente: Ralph Finnes foi a escolha ideal para Voldemort ao captar a essência da maldade encontrada nesse bruxo, Helena Bonham Carter continua compondo uma Belatrix Lestrange psicótica e explosiva e Alan Rickman, mesmo pouco aparecendo na pele de Snape, aproveita cada segundo em cena para ilustrar o personagem mais bem construído da saga. E a trinca principal de personagens cresce à medida que a história pede, afinal até mesmo o alívio cômico de Rony é reduzido para dar vez as dores de um Harry inseguro, uma Hermione sofrida e um Rony angustiado.

Ao final da projeção tive a certeza de que o caminho, apesar de comprometido por decisões que se mostraram equivocadas nos outros filmes, agora está sendo bem guiado a um final coerente e digno dos milhares de fãs mundo afora ávidos por verem no cinema um universo do qual aprenderam a gostar e reverenciar. Harry Potter e as Relíquias da Morte: Parte I, como filme de aventura agrada e como adaptação capta tremandamente bem o clima e os detalhes do fim de uma jornada. E acima de tudo consegue dividir a trama num momento apropriado, preparando o terreno para o grande desfecho que está por vir.

Obs.: A animação inserida em dado momento da exibição é fantasticamente bem construída e se encaixa perfeitamente com a lógica das Relíquias da morte. Posso estar exagerando, mas guardando as devidas proporções e diferenças, me fez lembrar o anime de Kill Bill Volume I do Tarantino.

Nota: 8

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