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Tropa de Elite 2


Filas intermináveis, dias e mais dias de sessões esgotadas, comentários por todas as esquinas e mesas de bares e um endeusamento do Capitão Nascimento. Como Tropa de Elite consegue tudo isso e mais um pouco? Além do fato de poder ser descrito por alguns, ou melhor por muitos, e eu me incluo nesse grupo, como o filme nacional mais importante dos últimos tempos. E escrever esse post significa olhar mais uma vez as inúmeras qualidades de uma obra... perfeita.

Passados vários anos do primeiro longa, esse segundo exemplar já em sua sinopse mostra uma evolução em termos de temática, ganhando proporções muito maiores e tendo pretensões muito mais ambiciosas: ao mesmo tempo em que enfrenta questões pessoais, o Capitão Nascimento precisa encarar um novo e mais complexo problema, a relação entre mílicias e política. Esse é todo o pontapé inicial para uma grande discussão que vai além da segurança pública e chega até a postura da sociedade diante do que se vê de mais inadmissível no governo.

Ver os minutos transcorrendo em Tropa de Elite 2 é ver como um projeto já bem sólido em sua versão anterior conseguiu amadurecer a sua narrativa, as suas propostas, sua parte técnica e como se concretiza temas tão densos e relevantes de forma convincente. Não se trata apenas de um retrato extremamente real da violência e da maneira como ela é veiculada, mas também criticar as práticas escusas e absurdas das milícias, do Estado, da polícia e da imprensa, expor uma realidade, que embora não seja nehuma novidade, choca ao ser vista na telona tão bem montada e sempre buscando incomodar o público, destacar um sistema corrupto cheio de teias e camadas e interesses e vantagens e estratégias e personagens ardilosos, trazer à tona discussões políticas da mais alta necessidade nas vésperas do segundo turno da eleição e realçar ainda mais um cenário deprimente, pessimista com uma coragem elogiável, afinal pontuar um momento clímax com a frase "A PM do Rio tem que acabar" não é pra qualquer um.

Outra discussão pertinente é a recepção junto ao grande público de André Mathias e principalmente do Capitão Nascimento enquanto heróis e nesse sentido a cena no restaurante é siginificativa por tocar nesse ponto. Seriam mesmo os indíviduos do BOPE uma solução para o problema de segurança do Rio de Janeiro ou uma consequência da escalada de violência ininterrupta que assola a Cidade Maravilhosa? Interpretem como quiserem, mas pensar no Capitão Nascimento como ou um herói ou um monstro é ignorar antes de mais nada um personagem extremamente humano por carregar dúvidas, tristezas, convicções e sentimentos das mais variadas naturezas.

E o roteiro escrito por Bráulio Mantovani, o mesmo cara de Cidade de Deus, explora todas essas possibilidades e muitas outras de modo riquíssimo, criando situações e conflitos da mais alta categoria e sempre com a intenção de puxar uma nova cena, uma nova ideia ou algum momento decisivo seja para levar adrenalina seja para levar reflexão para o filme. Trabalho impecável de conexão e coesão do todo, aliado a estupenda montagem.

Como não citar a maravilhosa direção de José Padilha, conferindo energia e tensão aos embates verbais ou adrenalina e empolgação em cenas de ação e uma narrativa interessante durante todo o tempo a partir de recursos muito bem empregados como a narrativa em off, o fantástico trabalho de edição de som e a fotografia mais difusa combinando perfeitamente com o tom da obra.

A lista de personagens/atores também está imune a críticas. Destaco três personagens apenas por uma questão de espaço, porque vários outros transbordam significados em suas atuações. O deputado Diogo Fraga vivido por Irandhir Santos numa combinação na medida certa da representação das questões morais do filme com a natural explosão passional a qual todos estamos sujeitos ao vivenciarmos tantas atrocidades; Russo vivido por Sandro Rocha numa composição típica de vilão cruel, truculento mas agregando múltiplas facetas; e, claro, Capitão Nascimento vivido por Wagner Moura, mais consciente do mundo que o cerca e representado por seu ator, num desempenho monumental e imponente, com ainda mais tormentos e complexidade do que no primeiro Tropa de Elite.

O que faz Tropa de Elite atrair tanto público e sucesso? Pode ser a excelente crítica social, o retrato documental de uma realidade muito próxima de todos nós, grandes atuações, cenas de ação muito bem feitas, chavões que serão exaustivamente repetidos (e esse não poderia ser diferente e vem aos montes como "Quer me fuder me beija", "Cada cachorro que lamba a sua caceta" e "Traz um café porque pão duro é foda"). Ou quem sabe tudo isso.

Nota: 10

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