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Os olhos que não dormem



O futuro é uma boa forma de expressarmos nosso estado de espírito. Pensar e imaginar o amanhã sempre foi o meio que encontramos para materializar os medos, expectativas e incertezas que vivemos no presente, não deixando também de ser um ideal que queremos alcançar ou um inferno que gostaríamos de evitar. Acima de tudo, eu acho que o futuro que escolhemos “prever” está nas nossas cabeças.

George Orwell pode não ter sido um oráculo de Delfos, mas o futuro que ele criou nos dizia muito mais sobre o seu presente do que se poderia esperar. 1984 é o ano e o título do livro onde se passa a história de Winston Smith. Num mundo onde o Socialismo está cada vez mais expandido e distorcido, a Oceânia (equivalente a nossa Inglaterra) existe sobre o controle total do Grande Irmão e de seu Partido. Winston não tem outra escolha senão ser mais uma das engrenagens dessa sociedade, onde pensar e sentir são os piores pecados que se pode cometer. Mas a sua história é a de alguém que silenciosamente luta contra esse terror e ele vai tentar recuperar sua vida e humanidade da maneira que puder, seja através de um caso de amor sem esperanças ou fazendo parte de uma revolução que talvez nem exista. Porém, não lhe resta muito além de esperança para fazer isso. Afinal existe um fato do qual não se pode escapar : “o Grande Irmão está de olho em você.”

É muito difícil pensar em 1984 sem notar o momento e por quem ele foi escrito. George Orwell foi testemunha participante de um momento em que as ideias em que ele acreditava sincera e intensamente estavam sendo completamente desvirtuadas. Como um socialista auto-proclamado dissidente, nada mais desesperador para ele do que ver suas crenças se manifestarem nos horrores do stalinismo e nas contradições do Partido Trabalhista Britânico. Projetando isso algumas décadas no futuro, no ano de 1984, temos uma mostra da grande desilusão do autor com o rumo de que sua época estava tomando.

Se a obra de Orwell é chamada de clássico moderno, não é por ser uma espécie de premonição na forma de livro. Mesmo sendo um trabalho de ficção, existe muita sensibilidade e honestidade da parte do autor, que nos diz muito sobre si mesmo através dos personagens e da narrativa. Além disso, só por ser um livro ainda tão fortemente vivo e presente na cultura de hoje demonstra que não somos completamente indiferentes aos medos e pensamentos do autor. Na verdade, dá até para dizer que compartilhamos alguns deles.

A maneira como a influência de 1984 ainda é sentida pode ser vista nos termos e expressões do livro que passaram a fazer parte, direta ou indiretamente, do dia-a-dia das pessoas. A ideia de duplipensamento (a contradição consciente) e o Grande Irmão (Big Brother) estão jogados no cotidiano das mais diversas formas: em reality shows, filmes, quadrinhos e conversas de bar. Não existe maior exemplo desse alcance do que no sucesso estrondoso do primeiro Matrix, que dentre muitas coisas se baseia muito nos conceitos de 1984, produzindo discussões e debates que só servem para provar o quanto o livro é atual e relevante.

Justamente por essa longevidade que o trabalho de Orwell pode tranquilamente (e com muitas recomendações) ser lido hoje ou amanhã. Se você quer uma excelente história, muito bem contada e construída, ou uma reflexão mais profunda sobre o tempo em que o autor viveu, o Grande Irmão te entrega essas duas coisas, sem nem precisar piscar.


1984, de George Orwell, pode ser encontrado em livrarias numa edição da Companhia das Letras. Esse texto foi baseado no posfácio de Thomas Pynchon, da mesma edição, para ser escrito.

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