Particularmente, eu sempre achei muito complicado classificar essa que, para muitos, é a obra-prima de Tim Burton. Já ouvi e li chamarem o filme de “fábula gótica”, “fantasia com toques de terror” e até “crítica à sociedade norte-americana de classe média”. Acho que dizer que Edward... não é nada disso é exagero, talvez seja essas três coisas juntas e muito mais ou pode ser o que qualquer um quiser. Mas acho que, acima de tudo, nesse seu primeiro grande sucesso como diretor, o maluco despenteado consegue acertar todas as vezes.
A premissa não tem muita coisa de original. Temos o estranho que chega na cidade mais irritantemente normal e American Way of Life do subúrbio norte-americano. Lá ele começa deslocado, depois todo mundo se encanta com a esquisitice e por último é jogado fora e ignorado pelas mesmas pessoas que antes o colocaram no centro do mundo (nada mais clássico do ser humano). Nesse meio período ele encontra um grande amor, amigos e um inimigo pra enfrentar. Simples assim e melhor impossível.
Nesse meio temos personagens muito bem colocados e apresentados, mas nenhum que se iguale ao próprio Edward. Johnny Depp com certeza fez coisas incríveis depois, mas parece que ele despendeu um carinho especial na hora de criar o Mãos de Tesoura. Digo isso porque em nenhum momento coisas como as tesouras, as roupas ou a pele pálida cheia de cicatrizes chegam a se sobressair sobre a interpretação de Depp, essa sim o grande trunfo e diferencial do filme junto com todo o background do personagem que, apesar de não fornecer explicação nenhuma (a criação de um cientista maluco para ser o filho perfeito...porra Tim Burton!), o torna mais apaixonante ainda.
Se já nos seus primeiros curtas e longas metragens, Burton se diferenciava por uma direção artística e ambientação muito particulares, dessa vez ele atinge o equilíbrio que sustenta em seus filmes até hoje. É impossível pensar naquele estilo “gótico encontra a terra do pirulito” e não associar diretamente ao diretor, que conseguiu levar isso até para filmes mais comerciais como os dois Batman que dirigiu. Para quem gosta de estudar esse lado mais voltado para plástica e estética dos cenários e caracterizações, é muito legal ver toda a inspiração que Burton tira do expressionismo alemão (O Gabinete do Doutor Caligari, Nosferato e alguns outros).
Pros fãs de listas de “filmes obrigatórios”, Edward com certeza entra fácil, fácil em uma dessas. Antes do senhor Burton se empolgar e exagerar com os Alices da vida, as histórias e personagens bizarros e a palheta de cores infinita eram garantia de filmes excelentes. Viver do passado pode não ser a melhor coisa do mundo, mas com certeza pode te fazer esquecer algumas besteiras do presente.
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